Da casa, as
paredes e os degraus externos de acesso ao primeiro piso eram de granito. Era
grande se comparada a outras da vila. Tinha três quartos e sala. De frente, do
lado esquerdo, a simples e eficiente cozinha, era a divisão mais importante da
casa, nela a família se reunia para repasto, conversar, coordenar os afazeres
do campo e se abrigar do intenso frio do inverno, no aconchego da lareira. Este
ambiente humano de solidariedade faz falta nesta insensível moderna sociedade. Destacava-se
do restante da casa, ao lado, uma varanda e, à frente desta, uma grande
parreira com cachos de uvas, de um vermelho intenso, no formato de coração de
galinha ( chamadas de bagos de galo(!) ), muito doces e durinhas, parreira esta
que cobria o pátio térreo da casa, onde ficavam o galinheiro, as gaiolas dos
coelhos, o curral da burra e a pocilga do porco, espaços estes recobertos de
mato roçado nas matas que, depois de um tempo, virava adubo orgânico. Ainda havia uma adega com pipos e tonéis, a
arca de salgados e de milho, o pote para guardar o azeite e a terrina para
conserva das azeitonas curtidas. No forro,
junto ao telhado, eram guardadas as batatas. Não havia luz elétrica, nem água encanada,
nem fossa séptica. Nos quartos, debaixo da cama, um penico estratégico para as emergências
noturnas. Os conteúdos orgânicos eram
despejados numa vasilha que depois era levada para a fazenda muito cedo, ao
raiar do dia, por dignas mulheres equilibristas, em cuja cabeça, com apenas uma
pequena rodilha de pano, o vaso era transportado, sem o amparo das mãos. Ao
atravessarem a povoação o perfume as denunciava. Este cenário ainda persistiu até
meados da década de 70. Mudaram os tempos para melhor qualidade de vida, mas
houve perdas irreparáveis, do ponto de vista afetivo.
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