terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Antigamente


O trabalho no campo mal remunerado era a única forma de sobrevivência
para os nativos da terra. Tirando os poucos profissionais:
comerciantes, barbeiros, pedreiros, carpinteiros, ferreiro, mesmo
esses, trabalhavam o seu pedaço de chão depois da hora do expediente
de trabalho. Não era mole não! Com os idosos para cuidar e os animais
para alimentar não sobrava tempo para ausentarem-se de suas casas, um
dia que fosse. Vida essa voltada para o trabalho não tinha direito a
descanso, nem lazer. Poucos tinham rádio, novela e televisão, também,
não. Quando a TV apareceu nas aldeias do interior, em meados dos anos
60, faltavam recursos para gastar no essencial, quanto mais para
desperdiçar nesse luxo!
Quando um dos familiares adoecia, mais tarefas
sobrecarregavam os afazeres dos restantes da família. Podiam faltar
tostões, e faltavam, para as sardinhas ou os carapaus, mas o reservado
aos “seguros” médico e, principalmente, o seguro espiritual eram
sagrados. Ao médico do posto de saúde pagava-se uma anuidade pela
assistência familiar domiciliar. Ao sr. Abade o folar, que era
entregue num envelope na visita do Santíssimo às casas dos paroquianos
 no dia de Páscoa. Talvez por isso, todo árduo trabalho era aceito
como se fosse uma dávida de Deus, uma dívida, uma obrigação a saldar
sem contestação, a insatisfação ao existir era e ainda o é, negociada
com o cumprimento de mais uma promessa ou doação.  O homem que é
educado a entender que é um pecador, acha que o destino não lhe
pertence, que está nas mãos do Divino essa responsabilidade! Não
pensasse assim, a sua participação na política seria outra, mais
participativa.
Como disse no post anterior, muita coisa mudou para melhor nas nossas vidas,
menos na cabeça de muitas pessoas.

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