Enxaqueca doença ou,..! O quebranto causador de dor de
cabeça? Mau olhado retirado com reza, oração, benzedura?!
Desde criança a enxaqueca sempre foi o meu ponto fraco. Lembro-me
da minha avó, amorosa Conceiçãozinha, junto da lareira, em noites iluminadas
pelas chamas do candeeiro a petróleo que empesteava o ar com forte odor e das labaredas
do fogo na lareira aquecendo as panelas de ferro de três pernas, uma maior
cozinhando a comida do porco, depois de misturar outros restos de comida e
farinha, a que se dava o nome de lavagem e três outras menores: uma para a sopa,
outra para as batatas e hortaliças, e outra só para água quente, para completar
as outras e, também, para amornar a água de lavagem da louça. Lembro, ainda, da
querida avozinha, de aspecto franzino, pegando nas tenazes para retirar do lume
uma brasa e mergulhá-la numa malga com água, para investigar se a dor de cabeça
do único neto, era proveniente de mau olhado. Geralmente era confirmado o mau
olhado, seguindo-se o ritual da benzedura. Nunca funcionou, mas esse ritual
continuou a ser repetido pela minha mãe. Valia como manifestação de conforto,
carinho, e doação, prova de amor de quem me queria bem.
Quem convive com a doença sabe bem como ela interfere na
qualidade de vida, no desempenho da profissão e, por sequência, no seu pleno
desenvolvimento. Muitos dias a chá, comprimidos e compressas de gelo na testa.
Dias e noites infindáveis com latentes pulsações de dor, mal estar e vômito. Duas
enxaquecas por semana num ano somam mais de 100 dias parcialmente perdidos. Multiplicados
pela idade da pessoa, são muitos anos de clausura e sofrimento. Uma vida de agonia
e prisão destinada aos pacientes com dor de cabeça. Hoje, graças ao desenvolvimento
de novos medicamentos, essa situação tem sido minorada!
Vai fazer três anos, por recomendação de amigo fui a médico
especialista que, depois de ouvir pacientemente (novidade nos dias de hoje) meu
histórico de doente descrente e desconfiado, pois procurara outros médicos sem obter
resultados satisfatórios, receitou-me um comprimido para tomar todos os dias, outro
para tomar na crise, avisando, que não curaria a doença, com a qual teria que
conviver até certa idade, quando então ela sumiria espontaneamente. Não deu a
razão de ela sumir, imagino que seja por capricho da natureza! Não importa, acertou
no diagnóstico! Assim, com crises mais espaçadas, posso levar uma vida normal. Resumindo:
o homem com persistência e fé no saber faz milagres, diferente dos milagres
evocados aos Santos por falta de saber!
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