segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Estórias da minha terra.


Contado parece irreal, mas aconteceu!
Meados da década de 60, eu e mais quatro santarenses passamos por uma situação aflitiva, num acidente de carro, com alto risco de morte.
Cinco adultos dentro de um pequeno Renault Dauphine! Desconfortavelmente sentado na vaga do meio do banco  traseiro,  muito prensado, não podia mexer-me.
No carro zero km, viajamos  para uma povoação próxima a Lamego, para entregar aos familiares de um amigo do dono do carro uma encomenda, trazida da ex colônia Guiné.  Ao chegar fomos recepcionados na adega da casa com farta mesa,  vinho, pão e enchidos caseiros: chouriço e presunto. Região famosa por fazer essas deliciosas especiarias, bem...! Bom demais para recusar, acabamos abusando do tinto.  
No regresso para  casa, a 100 Km/h, estávamos alegres e pândegos, cantarolando animadamente quando, de repente, numa pequena curva, pouco acentuada, o areão junto à berma da estrada levou o Dauphine  a sair de lado e passar raspando por uma placa de paragem de ônibus. Esse contato com a placa fez o veiculo retornar para a estrada.  Fora ali posicionada milimetricamente para  evitar gravíssimo acidente. Sorte, ou algo inexplicável  para agnósticos, funcionou a nosso favor.
Fracote de suspensão, estava justificado o apelido ganho no Brasil de “Aerocapotable”!
Tudo foi muito rápido, a manobra para evitar o iminente acidente nos deixou tensos, com os olhos fixos no motorista e no que vinha pela frente na estrada.  De repente dou conta que a porta traseira abriu e o amigo, ao meu lado, de terno preto, saiu sugado pelas forças que nos empurravam para a lateral, o casaco com forro de cetim branco virou do avesso e  um corpo alvinegro, dando cambalhotas, saiu rolando morro acima feito bola, cena que me deixou estupefato com o que posso chamar de crise nervosa. Sem me poder conter, comecei a rir da cena inusitada, sem conseguir falar para avisar o motorista para parar.  Tentava avisar, gesticulando e apontando para o lado e para trás, mas não fui entendido, sendo repreendido por todos, pois estava a tirar a concentração do motorista e,  ainda por cima, rindo de uma situação de pavor! Só depois de algum tempo, já com o carro sob controle, entenderam o meu nervosismo, deram pela falta do colega, pararam e deram ré para pegar o acidentado. Aparentava estar bem,  caminhava desengonçado descendo a encosta na nossa direção sacudindo a terra do terno, aparentava não ter ferimentos, nenhuma distensão  ou osso quebrado! Ainda bem, não se feriu, dissemos nós.
No caminho resolvemos parar em Viseu para deixar o carro na oficina para conserto e ir até à esplanada do Rossio decidir o que dizer ao chegar em Santar! Depois de uma rodada de finos e  troca de sugestões ficou acertado contar que o motor esquentou, uma mangueira  rasgou vazando a água. Ficou na oficina aguardando a peça, em falta, chegar.
Só que, no dia seguinte, o aparente incólume acidentado não teve condições para se levantar da cama, sentia o corpo todo dolorido, como se tivesse sido triturado. E foi, coitado!
Como a mentira tem pernas curtas, não poderia haver outro desfecho:  rapidinho Santar inteiro  ficou sabendo uma parte da verdade!


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