Anos 60, a minha geração no mundo mandava brasa, a contestação
era geral: os Beatles, maio de 68, a droga à solta, a liberdade sexual,
Woodstock, com os hippies bradando pela liberdade total, em todos os níveis e eu
policiado, silenciado, escravo do sistema discriminador e autoritário. Aguardava
na fila de mobilizados, ano após ano, o meu dia chegar, com os cabelos
compridos e as calças à boca de sino, que rapidinho não mais poderia usar. Sem
poder piar, face às estórias de horror contadas dos retornados da guerra do
ultramar, fotos por eles trazidas mostravam peitos arrancados por balas de
ponta cerrada, criancinhas em estacas espetadas, corpos que agonizavam pelos
cortes das catanas. Nessa guerra, eu imaginava não existir tempo para pensar. No
campo dos horrores, o instinto era o ordenador, o homem era um maquiavélico
zumbi, matador implacável e nisso tinha prazer. Como sentir-me humano, pois o presente
não tinha futuro, o destino estava traçado pelos ideais do ditador, a minha vez
estava para chegar. Cumpri o serviço militar, obrigatório, no continente, foram
três anos, uma eternidade! Eu não sabia que seria poupado de ir à guerra. Nesse
chocante contraste, saber que liberdade existia, embora fora do meu alcance,
penei até chegar o dia de emigrar.
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