Filhos ingratos e pais inconsequentes, não souberam
arcar com a responsabilidade na transição da ditadura para a democracia.
Aproveitaram-se da oportunidade para legislarem em causa própria, esqueceram-se
de amparar os genitores e de resguardar o futuro de seus filhos.
Ao viajarmos pelo interior das aldeias ainda nos
deparamos com alguns sobreviventes dessa geração de rijos portugueses trabalhando no
campo, dignos remanescentes do heroico lusitano Viriato. Dos últimos
portugueses a aguentar extremadas dificuldades de sobrevivência, sem nenhuma
assistência do Estado explorador. Pessoas simples e sem maldade, de palavra e caráter
forte e largos costados,de tanto carregar o país nas costas e suportar frios
invernos, quando não outonos, no exaustivo e duro árduo trabalho do campo. As
primaveras da vida e as férias de verão nunca lhes foram permitidas de direito.
Estes heroicos portugueses filhos escravos do Estado ditatorial e opressor e do atual
Estado populista, pseudo social, que dizem ser democrático.
Os eternos “carregadores de piano” das elites, nunca
foram devidamente considerados e respeitados. Muito menos recompensados, com
justiça, por políticas sociais voltadas para os mais necessitados, que, pelas
provações que passaram, são, sem dúvida, os mais merecedores de cuidados para
que, pelo menos, possam viver dignamente e com tranquilidade a vida que lhes
resta.
Uma geração parida aparada pelas mãos de parteira,
muitas vezes à luz de candeia de petróleo, onde o pouco que tinham era apenas o
mínimo necessário para a sobrevivência. Como o conforto do repouso do corpo num
colchão de palha de centeio, que o uso amassava e quebrava, ficando duro e com
covas. Todo ano a palha era trocada. Seus pisantes eram tamancos, um luxo, talhados
na leve madeira de amieiro.
As mulheres eram as mais sacrificadas nas lides do
campo e do lar, cuidando da casa, marido, filhos, dos idosos e dos animais de
criação. De um pedaço de pano faziam uma rodilha para colocar na cabeça e,
assim, poderem carregar o peso de molhos de lenha, da pesada gamela (feita de
madeira) ou a canastra de vime e os
cântaros de barro com água da fonte. De madrugada, para não cruzarem com
outros moradores, carregavam para a fazenda vasilhas com os dejetos,utilizados na
horta, como fertilizantes.