quarta-feira, 9 de novembro de 2011

J. Rentes de Carvalho

O "Panças", a virgem e o seminarista

História contada ao serão. Enredo camiliano. Pai nobre, ameaças de morte, tiros que de propósito falham o alvo, virgem desflorada pelo amante da mãe, o "Panças".
O pai, ricaço no Brasil, conversa o seminarista, enche-lhe a bolsa em troco da cornadura, abalam os recém-casados para Belém do Pará.
Vêm de visita anos depois, "brasileiros" no luxo e no falar. Por artes que só podiam ser de Belzebu – como a bruxa de Algoso confirmou - o "Panças" reacende na rapariga o fogo da carne, o ex-seminarista apanha-o a montá-la no leito conjugal. Também ele dispara uns tiros e, bom aprendiz,  avisadamente também erra a pontaria. Escapam os adúlteros à fúria assassina, corre o povo a acudir, reza-se na igreja para que não haja mais desgraças.
Outra vez corno, e com razão descontente, o "brasileiro" mete-se a caminho para Lisboa, toma lá o paquete, e de momento sai da cena.
O problema agora é do "Panças", que cedo e com surpresa descobre que a amásia, a "Puta" – assim passa a chamá-la – não presta. Não presta na cama, não presta na cozinha nem nos arrumos, e como é senhora não se lhe fale em coisas de gado e lavoura, porque torce o nariz.
Habituado a fazê-lo às mulas que não obedecem, o "Panças" deita-se a ela à cinturada e pontapé, mas o estupor refila, não aprende.
Entra agora no enredo um padre de vila próxima. Ciente dos sofrimentos da infeliz e dos dinheiros do pai, apieda-se, recolhe-a, também a monta - o que se vem a saber por indiscrição da "sobrinha" do santo homem. De seguida, intermediário experiente, bom negociante, a troco disto e daquilo consegue os vários perdões e, final feliz, acompanha-a de retorno ao seio da família, ao bem-estar e à paz conjugal.

Como se veio a falar do caso? Estávamos a lareira depois das notícias, tínhamos discutido a crise e os processos que vão correr, quando alguém disse que os filhos da puta tinham chegado à aldeia de tal. Houve confusão, não se compreendia o que teria trazido o sucateiro, os banqueiros e os políticos corruptos para este longes. Mas logo se aclarou. Não era deles que se tratava, era dos filhos da "Puta", história dos anos sessenta que poucos  recordavam.
 
Não resesti, copiei do blog do escritor:  http://tempocontado.blogspot.com/ 

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